Minha gestação a espera do Ari Bernardo foi atípica.
Primeiro porque durou três anos - O que?
tu és um tipo elefanta, Karem?
Não, claro que não. Mas engravidei no dia em que saímos
do Fórum com os papeis para a adoção. Nos primeiros meses esperei pelo meu bebê
impacientemente, mas depois das 40 semanas entendi que seria num tempo fora do entendimento
comum.
No terceiro ano eu desisti. E por vários motivos: por causa da angústia da demora, por certa raiva ao ver na mídia instituições abarrotadas de crianças precisando do calor de uma família e eu ali cheia de amor para dar sem nenhum dos lados poder fazer nada além de esperar.
No terceiro ano eu desisti. E por vários motivos: por causa da angústia da demora, por certa raiva ao ver na mídia instituições abarrotadas de crianças precisando do calor de uma família e eu ali cheia de amor para dar sem nenhum dos lados poder fazer nada além de esperar.
Acontece que amor é igual água, se não flui apodrece,
chama insetos, larvas, podridão, limo, doenças... E por fim seca! E meu amor
materno estava assim, estagnado e me matando.
Então decidi que não era disso que queria morrer, que
tinha muitas outras coisas para fazer e conquistar e sabia que para isso tinha
que dar um passo importante: tinha que parar de esperar, de me importar, de me
direcionar ao objetivo de ser mãe. Elaborei o plano e segui em frente, anunciei
aos demais interessados que filhos não eram mais parte da minha vida, então... Cinco
dias depois recebi um telefonema no final da tarde.
Já notaram quão é irritante e maravilhoso não termos
domínio do que realmente importa? Quero dizer, a roupa, o penteado, o carro ou
o alimento a gente escolhe... Mas o essencial vem quando e como quer.
Bem, sentei para não desmaiar, levei um tempo para
entender que a moça estava falando do meu filho. Sim, era menino, tinha dois
meses e era só o que eu pude saber por esta “ultrassonografia” as avessas. Não
pude dar a resposta, precisa conversar com meu marido. Foram horas de espera
até ele chegar. Claro que não dormimos naquela noite de medo, de ansiedade, de
alegria, de “jfschmrvrleilcjuewymmvncox”... Assim mesmo, indecifrável.
Então decidimos aceitar o destino e meus planos de mudar
o foco da vida tiveram morte instantânea no momento que começamos a pensar no
nome (história que já contei aqui).
No outro dia fui à loja de artigos infantis, lívida, nas
nuvens, chocada, tonta ao sentir o amor voltar a seguir seu curso dentro de
mim, levando vida, vida, vida!
-
Oi, quero um enxoval básico para bebê.
-
Menino ou menina?
-
Menino (céus).
-
Idade?
-
Aproximadamente dois meses.
-
É grande?
-
É gigantesco, pensei – Não sei, falei.
-
É presente?
Comecei a chorar.
-
É meu filho, estou indo buscá-lo.
Fiz as compras chorando, com a loja inteira emocionada.
Na gestação comum podemos fazer o enxoval com calma,
preparar o quarto, o trabalho e a cabeça para a chegada do bebê. Na adoção não
há nada disso, ao mesmo tempo em que durou três anos, também durou somente
algumas horas entre saber que seria mãe e ser efetivamente.
Mas tem algumas coisas que não mudam: eles vêm com o
sexo, traços físicos, defeitos e virtudes que a natureza quiser. Eles serão
bons ou maus filhos/amigos se quiserem e a gente vai amá-los profundamente como
jamais amamos antes.
Eu não estava na maternidade, nem deitada e ele não estava
chorando quando o ganhei. Eu estava de
pé, embora meus joelhos quisessem me trair, estava em um Fórum e ele estava
dormindo. E por aí acabaram as diferenças do momento que tive meu filho nos
braços pela primeira vez.
O mundo explodiu. Tive um forte ataque de medo e força.
Peguei-o e ele, mesmo dormindo, sorriu pra mim.
Não há nada que possa vir a acontecer entre nós que seja
mais forte do que aquele sorriso espontâneo, inconsciente e pontual. Estava
claro... Ele também esperou por aquele momento e nosso encontro formou uma
correnteza indissolúvel de amor.
Algumas pessoas me perguntam se eu não tinha ou tenho
medo de não saber de onde ele veio. Não, jamais. Tive e tenho medo de falhar,
de não ser boa o suficiente, de não saber guiá-lo, de faltar em algum
momento... Coisas de mãe. Mas medo de não saber de onde ele veio nunca tive.
Não houve, não há e não haverá na história da raça humana uma mãe que saiba de
onde seu filho veio antes de nascer.
Preciso aqui fazer uma importante observação. Gostaria que
as pessoas jamais julgassem uma mulher que abandona, que entrega, ou que perde
seu filho na justiça. Todas levaram a gestação a termo e de alguma maneira
acreditaram que eles pudessem viver, apesar e além das condições delas.
Agradeço a hospedeira de meu filho, sem ela eu não seria mãe. E desejo que onde
quer que esteja encontre paz no coração, que de alguma maneira tenha a certeza
acalentadora de que aquele bebê não era seu, ele era meu. E ele está muito,
muito feliz.
E por fim, obrigada meu filho por me adotar. Te amo mais
que tudo, do “tamanho do universo vezes o infinito”... Asim ó: beeeemmmm
grandão!!!
Adorei a história de vocês! Parabéns, super emocionante!
ResponderExcluir