quinta-feira, 8 de maio de 2014

MINHA GESTAÇÃO DE TRÊS ANOS.

Minha gestação a espera do Ari Bernardo foi atípica. Primeiro porque durou três anos - O que? tu és um tipo elefanta, Karem?
Não, claro que não. Mas engravidei no dia em que saímos do Fórum com os papeis para a adoção. Nos primeiros meses esperei pelo meu bebê impacientemente, mas depois das 40 semanas entendi que seria num tempo fora do entendimento comum.
No terceiro ano eu desisti. E por vários motivos: por causa da angústia da demora, por certa raiva ao ver na mídia instituições abarrotadas de crianças precisando do calor de uma família e eu ali cheia de amor para dar sem nenhum dos lados poder fazer nada além de esperar.
Acontece que amor é igual água, se não flui apodrece, chama insetos, larvas, podridão, limo, doenças... E por fim seca! E meu amor materno estava assim, estagnado e me matando.
Então decidi que não era disso que queria morrer, que tinha muitas outras coisas para fazer e conquistar e sabia que para isso tinha que dar um passo importante: tinha que parar de esperar, de me importar, de me direcionar ao objetivo de ser mãe. Elaborei o plano e segui em frente, anunciei aos demais interessados que filhos não eram mais parte da minha vida, então... Cinco dias depois recebi um telefonema no final da tarde.
Já notaram quão é irritante e maravilhoso não termos domínio do que realmente importa? Quero dizer, a roupa, o penteado, o carro ou o alimento a gente escolhe... Mas o essencial vem quando e como quer.
Bem, sentei para não desmaiar, levei um tempo para entender que a moça estava falando do meu filho. Sim, era menino, tinha dois meses e era só o que eu pude saber por esta “ultrassonografia” as avessas. Não pude dar a resposta, precisa conversar com meu marido. Foram horas de espera até ele chegar. Claro que não dormimos naquela noite de medo, de ansiedade, de alegria, de “jfschmrvrleilcjuewymmvncox”... Assim mesmo, indecifrável.
Então decidimos aceitar o destino e meus planos de mudar o foco da vida tiveram morte instantânea no momento que começamos a pensar no nome (história que já contei aqui).

 No outro dia fui à loja de artigos infantis, lívida, nas nuvens, chocada, tonta ao sentir o amor voltar a seguir seu curso dentro de mim, levando vida, vida, vida!
- Oi, quero um enxoval básico para bebê.
- Menino ou menina?
- Menino (céus).
- Idade?
- Aproximadamente dois meses.
- É grande?
- É gigantesco, pensei – Não sei, falei.
- É presente?
 Comecei a chorar.
- É meu filho, estou indo buscá-lo.
 Fiz as compras chorando, com a loja inteira emocionada.

Na gestação comum podemos fazer o enxoval com calma, preparar o quarto, o trabalho e a cabeça para a chegada do bebê. Na adoção não há nada disso, ao mesmo tempo em que durou três anos, também durou somente algumas horas entre saber que seria mãe e ser efetivamente.
Mas tem algumas coisas que não mudam: eles vêm com o sexo, traços físicos, defeitos e virtudes que a natureza quiser. Eles serão bons ou maus filhos/amigos se quiserem e a gente vai amá-los profundamente como jamais amamos antes.
Eu não estava na maternidade, nem deitada e ele não estava chorando quando o ganhei.  Eu estava de pé, embora meus joelhos quisessem me trair, estava em um Fórum e ele estava dormindo. E por aí acabaram as diferenças do momento que tive meu filho nos braços pela primeira vez.
O mundo explodiu. Tive um forte ataque de medo e força. Peguei-o e ele, mesmo dormindo, sorriu pra mim.
Não há nada que possa vir a acontecer entre nós que seja mais forte do que aquele sorriso espontâneo, inconsciente e pontual. Estava claro... Ele também esperou por aquele momento e nosso encontro formou uma correnteza indissolúvel de amor.
Algumas pessoas me perguntam se eu não tinha ou tenho medo de não saber de onde ele veio. Não, jamais. Tive e tenho medo de falhar, de não ser boa o suficiente, de não saber guiá-lo, de faltar em algum momento... Coisas de mãe. Mas medo de não saber de onde ele veio nunca tive. Não houve, não há e não haverá na história da raça humana uma mãe que saiba de onde seu filho veio antes de nascer.
Preciso aqui fazer uma importante observação. Gostaria que as pessoas jamais julgassem uma mulher que abandona, que entrega, ou que perde seu filho na justiça. Todas levaram a gestação a termo e de alguma maneira acreditaram que eles pudessem viver, apesar e além das condições delas. Agradeço a hospedeira de meu filho, sem ela eu não seria mãe. E desejo que onde quer que esteja encontre paz no coração, que de alguma maneira tenha a certeza acalentadora de que aquele bebê não era seu, ele era meu. E ele está muito, muito feliz.
E por fim, obrigada meu filho por me adotar. Te amo mais que tudo, do “tamanho do universo vezes o infinito”... Asim ó: beeeemmmm grandão!!!

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